DYSNOMIA – Death Thrash Metal feito com profissionalismo e muita garra.

“...engana-se quem acha que o underground está morto ou morrendo, pois em minha visão ele é justamente o que se mantém."

Entrevista

Dysnomia é uma banda formada em 2006 fazendo um Death Thrash Metal bem competente a banda vem seguindo como um trio e vem se destacando pelo seu profissionalismo e competência em seus trabalho, com 3 álbuns lançados o Dysnomia chama atenção com seu último trabalho intitulado “A Queda do Céu”, Vamos conversar com seu vocalista e guitarrista João Jorge.

Primeiramente conte-nos como foi a ideia de criar o Dysnomia?
João Jorge –  A Dysnomia já existia como um projeto desde 2006. O Érik (baterista), e o Denílson (baixista) tocavam em trio com o Júlio Cambi, primeiro guitarrista, e estavam começando a compor seus primeiros sons autorais. Eu estava parado depois de ter tocado por alguns anos em duas bandas como baixista e vocalista – O Kriptya, de death metal, e o Neuro-Visceral Exhumation, de goregrind, além de alguns projetos paralelos. Eis que um dia recebi uma ligação do Júlio, que havia visto uma apresentação de um desses projetos anteriormente e lembrou de mim quando eles saíram a procura de um vocalista. Perguntei se podia levar minha guitarra também, tirei uma composição que eles tinham acabado de fazer e coloquei alguns arranjos (essa veio a ser a faixa “Suicidal Combat” que saiu na nossa promo demo de 2009) e a partir desse primeiro ensaio que já deu muito certo eu me juntei à banda, sugeri o nome Dysnomia e contatei o Christophe Szpajdel, que fez a primeira versão do nosso logo, e o resto é história, rs.

Após a demo e 2 eps, como foi a sensação de ter seu primeiro full álbum saindo pela Heavy Metal Rock?
João Jorge –  é uma sensação extremamente gratificante ter esse reconhecimento, e o Wilton foi extremamente parceiro. Isso dá o gás que precisamos para continuar e trabalhar cada vez mais e melhor.


As capas dos trabalhos do Dysnomia são capas muito bem elaboradas, de onde vem essas inspirações e ideias das mesmas?
João Jorge –  Normalmente nós damos a liberdade para o artista. A gente pensa em um conceito baseado em uma das faixas ou no eixo temático das letras, apresentamos para os caras e eles vão fazendo os primeiros esboços. A partir disso vamos sugerindo pequenas alterações caso necessário, até chegarmos em um resultado que nos satisfaça a nós todos. Tivemos a sorte de contar com a colaboração de profissionais extremamente talentosos e dedicados em todos os nossos lançamentos, O Marcus Lorenzet, Gustavo Sazes, Carlos Fides e agora com o novo álbum o Thiago Del Ponte fizeram, todos eles, trabalhos excepcionais.

O logo da banda tem a assinatura de um dos grandes artistas gráficos o belga “Christophe Szpajdel” por que a escolha deste artista?
João Jorge – Eu já havia me correspondido anteriormente com o Christopher, ele foi o responsável pelo logo da Neuro-Visceral Exhumation, na qual eu tocava antes do Dysnomia, então foi tranquilo. Além de ser um artista renomado e ter feito logos para grandes bandas, ele é super acessível  e tranquilo de conversar. Ficamos muito contentes com o resultado. Com o passar do tempo sentimos a necessidade de algo um pouco menos carregado e demos uma repaginada com a ajuda do grande Carlos Fides, mas sem descaracterizar o original feito pelo Christophe.

O Dysnomia passa um furioso Death Thrash Metal, quais as principais influências musicais da banda?
João Jorge –  agora você fez uma pergunta bem difícil. Acho que temos influências de quase todas as vertentes do metal e de outros gêneros também. Eu sempre fui mais abrangente nos estilos que ouço, mas com o passar do tempo os caras também foram ouvindo outras coisas e absorvendo influências diferentes. Pessoalmente, dentro do metal eu citaria as bandas clássicas do death metal noventista como Death e Morbid Angel, sou fã do Carcass e bandas suecas como At the Gates, In Flames (principalmente da fase mais antiga) e bandas nacionais como a Dorsal Atlântica, Headhunter DC, Mystifier, Amen Corner, etc. Enfim, a lista é longa, e ultimamente tentamos não nos limitar a qualquer gênero, seja dentro do metal ou fora dele.

Desde o álbum de estreia “Proselyte” e o excelente “Anagnorisis” tem se mantendo bem fiel ao seu estilo musical, quem é o principal criador musical da banda?
João Jorge – nós sempre compomos em conjunto, quando em quarteto sempre os dois guitarristas contribuem com riffs e melodias, até o Érik nosso baterista às vezes escreve alguns riffs, que às vezes adaptamos ou usamos exatamente como ele criou, também trabalhamos bastante a estrutura das músicas juntos, até que soe satisfatório para todos. Se algo não estiver exatamente da forma como todos gostariam, lapidamos até chegar no ponto certo. Esse processo leva tempo por sermos muito criteriosos, ou “cricas” rs, mas ao longo dos anos temos conseguido ser menos morosos rs. Com a mudança para o power trio acabei me encarregando da maior parte dos riffs, foi um grande desafio, mas com a participação de todos creio que fizemos um bom trabalho mais uma vez.

Em sua opinião, aqui em nosso país o que é mais difícil para uma banda underground de metal extremo?
João Jorge – Acredito que o mais difícil, em geral, seja manter-se em atividade ao longo dos anos, o que engloba muitos fatores. Existe um público, ainda que restrito, o que é compreensível levando-se em consideração que estilos como o rock e o metal tiveram uma “morte comercial” ao longo dos anos. Isso afeta o underground no sentido de que o investimento de antes em bandas, eventos, gravadoras, que havia mesmo fora do mainstream, não existe mais, ou pelo menos da mesma maneira como existia antes. Atualmente, apesar das facilidades advindas de avanços tecnológicos (gravar um álbum é bem mais fácil e menos custoso do que há algumas décadas atrás, por exemplo) os músicos e bandas desse cenário acabam por esbarrar em outras dificuldades. A internet em tese facilita a divulgação, mas com o oceano de informações em que estamos imersos, fica cada vez mais difícil se destacar ou ser notado sem investir, por exemplo, em anúncios ou posts patrocinados, o que, de certa forma, pode ser comparado ao famoso “jabá” que rolava nas rádios. Mas o que antes era praticamente limitado aos artistas que tinham investimentos de empresários e gravadoras, agora se estende a muitas bandas do underground que procuram seu espaço nas mídias alternativas e sociais. Pode-se crescer organicamente ou sem a mediação das redes? Creio que sim, mas como se trata de um circuito independente, fica a cargo dos próprios músicos. Ou seja: tocar é de menos, no fim das contas. O excesso de atribuições que as bandas encaram por serem independentes e não terem os meios financeiros, não contando muitas vezes nem com um selo para lançar seus trabalhos e dividir os custos torna a empreitada inviável ao longo dos anos. É necessário ser paciente e muito perseverante, ter algum nível de organização e agir com profissionalismo, independente de ser do underground. Underground  não é bagunça, muito pelo contrário. É muita articulação e gente unida para fazer as coisas acontecerem, a despeito das adversidades. Mas engana-se quem acha que o underground está morto ou morrendo, pois em minha visão ele é justamente o que se mantém.

Comente sobre a ideia de capa do álbum “A Queda do Céu”?
João Jorge – Bom, quando pensamos na arte para o álbum, pensamos em algo que se destacasse, que não seguisse necessariamente o padrão de muitos discos de metal, com muitos elementos ou cores muito escuras. O Érik então sugeriu um amigo de longa data e apresentamos a ele o conceito da faixa-título, para que ele pudesse ter um  norte. Em pouco tempo ele já havia feito o primeiro esboço, que nos agradou. A partir disso, fomos sugerindo algumas alterações até chegarmos ao resultado final. O Thiago Del Ponte fez um grande trabalho, que nos deixou extremamente satisfeitos.
A letra desta música foi inspirada no livro homônimo, escrito em conjunto pelo xamã e líder da tribo Yanomami Davi Kopenawa com o etnólogo francês Bruce Albert. O livro conta com relatos do xamã Kopenawa que passam pelos mitos e pela cultura Yanomami, e o episódio da Queda do Céu, em particular, mostra a luta do povo indígena contra a destruição e o caos trazidos pelo homem branco. Daí veio a ideia de uma capa que retratasse essa destruição e morte de uma forma simples, direta e com menos elementos. E o resto ficou por conta do Thiago.

Como foram os trabalhos de gravações do álbum “A Queda do Céu”, pois o mesmo tem uma excelente sonoridade?
João Jorge – Foi um álbum desafiador por diversos motivos: a mudança na formação que acabou impactando as composições, com a adição de novos elementos e algumas mudanças no jeito de pensar os arranjos, a busca por um timbre agressivo que fosse possível de obter ao vivo com 3 integrantes e uma sonoridade mais orgânica também. Para nossa sorte, nós temos o Gabriel do Vale como parceiro há vários anos, desde a gravação do primeiro álbum, o Proselyte, e ele sempre nos ajudou acolhendo e entendendo a nossa  visão e acrescentando a dele de modo a extrair o máximo possível de cada músico e da banda como um todo. Ficamos muito orgulhosos e felizes, mais uma vez, pois sentimos que ele captou exatamente a sonoridade que tínhamos em mente ao fazermos as pré-produções.

Ainda falando do novo álbum que possui letras em português (sendo muito bem colocadas, sem parecer cômicas), como foi a ideia de fazer as letras em português?
João Jorge – Com a mudança na formação, começamos a nos perguntar o que poderíamos fazer de diferente em relação aos trabalhos anteriores. Sempre evitamos nos repetir, cada disco tem a cara da banda, mas ao escutar com atenção percebe-se que cada um tem também elementos distintos e suas particularidades. Com “A Queda do Céu” não foi diferente. Queríamos algo que o tornasse realmente diferenciado e o português já é algo que existia na ideia, mas por um bom tempo hesitamos em tentar. Eu costumava escrever em inglês na maior parte do tempo, mas desta vez aceitei o desafio, pois sempre fui fã de bandas como o Ratos de Porão, Dorsal Atlântica (principalmente rs) que lançaram discos seminais cantados em português. Outro motivo é que queríamos que a mensagem passada pelas letras fosse absorvida de imediato, da forma mais visceral possível. Aí a escolha ficou óbvia pelo português, pois nada capta a intenção e a emoção dos falantes/interlocutores como a língua materna.

Dysnomia desde o início sempre foi um quarteto, e atualmente conta com 3 membros, é mais fácil trabalhar como um trio? dê sua opinião…
João Jorge – Em geral, sim. Questões como transporte, acomodação, viagens ficam mais fáceis em termos de logística, além de financeiramente, em especial para os contratantes. Por outro lado, pesou a responsabilidade de tocar as partes de dois guitarristas, cantar e sapatear no pedalboard e ainda por cima sabendo que qualquer deslize aparece muito mais facilmente rs.

Qual o evento que mais marcou o Dysnomia ao vivo?
João Jorge – Houveram muitos, difícil escolher um…o primeiro show que fizemos na nossa turnê sul americana, em Cali, foi sensacional pela recepção que tivemos e pela energia de uma galera que em sua esmagadora maioria não havia sequer ouvido falar na gente antes, ou escutando os discos. Nosso primeiro show como trio, em Maringá, junto com o Claustrofobia, também foi ótimo. E mais recentemente, podermos tocar como banda de encerramento em um festival tradicional da nossa cidade, o Rock na Estação, no qual já tocaram Krisiun, RDP e Anthares, por exemplo, foi indescritível. O evento ocorreu na plataforma da antiga estação de trem da cidade, e me lembro de o trem passando pelo menos umas duas vezes, enquanto a gente rolava o som e o público agitava muito e berravam pro condutor buzinar rs. Esses foram alguns dos momentos mais marcantes que me recordo agora.

Qual sua opinião sobre questões políticas dentro de nossa cena extrema underground, onde geram uma série de conflitos entre esquerda e direita?
João Jorge – A política é uma dimensão essencial da nossa vida em sociedade, e é simplesmente impossível ser completamente apolítico ou não ter posicionamento algum partindo-se desse pressuposto. Acho impossível desvincular uma obra artística de seu contexto político, então creio que seja natural, bem como esperado surgirem debates ou mesmo antagonismos devido a isso. Acho que qualquer um que prega essa isenção ou completo descolamento de uma obra musical de quaisquer posições políticas ou idiossincrasias como algo obrigatório ou age de má fé camuflando suas reais intenções e pontos de vista, ou simplesmente vive fora da realidade, rs.

Quais os planos para o futuro a frente do Dysnomia?
João Jorge – A ideia a princípio é ter o máximo de datas possíveis para 2023 e sair divulgando o álbum Brasil afora. Há vários estados nos quais ainda não tocamos e depois desse hiato por conta da pandemia estamos mais do que nunca ansiosos para pegar a estrada!

Deixe suas palavras finais para todos os leitores e admiradores do Dysnomia…
João Jorge – Primeiramente, obrigado a todos vocês da Lucifer Rex Mag. pela oportunidade e pela entrevista de altíssimo nível, foi uma grande honra para nós. E agradecemos também aos leitores, principalmente àqueles que tiveram paciência para ler até aqui, pois sei que tende a ser prolixo rs. Obrigado aos amigos, admiradores e apoiadores também pelo apoio durante esses 15 anos, que possibilitou estarmos lançando nosso terceiro álbum atualmente! Tamo junto, e espero que possamos todos nos ver em breve por aí, na estrada!

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