HORROR TALES – Conto IX: A Praia

Horror Tales

Aqueles três enormes sóis castigam nossos corpos já em combustão, deitados na areia preta. Aqui não existe amanhecer porque não existe poente. Aquelas gigantescas bolas de gás são eternas… Estáticas.

A luz que emanam é cegante. É difícil inclusive observar o horizonte sem se ofuscar, onde se fundem o céu vermelho e o mar de lava fervente. Estamos em chamas. Sentimos o ardor a cada respiração, mas já estamos aqui desde o início dos tempos… Não nos decompomos de uma vez e eu desconheço a razão disso. Nós apenas vagamos… Às vezes nos deitamos. Observamos e sangramos. Não conversamos visto que não há o que ser dito. Estamos sofrendo com o calor infinito. Dor para sempre.

Ardência… Nossa carne se recompõe de tempos em tempos para queimar e se desfazer até que viremos esqueletos novamente. Esta é a praia da desgraça, onde névoa espessa sequer nos deixa respirar, e o cheiro forte exalado da crosta machuca os olhos e nauseia. Nós aspiramos até mesmo quando não possuímos narinas e vemos inclusive quando não temos olhos.

Somos muitos. Estamos esquecidos neste limbo calorento milênios a fio sem sequer escutar uma voz, seja de consolo ou de opressão. O silêncio apenas é quebrado pelo som preguiçoso de nossa carne ao fogo e o lento estourar das bolhas do magma em ebulição. Pisamos em areia negra e brasa. Nossos pés atolam pelas poças de metal derretido e cada passo é um imenso fardo seguido de um gemido cansado. Descansamos deitados por entre os gêiseres que emanam da terra o gás sufocante que se fragmenta no ar, formando uma espessa camada de fumaça escura que se assemelha a monóxido de carbono.

Vago por este local de dor e esquecimento há tanto tempo que sequer me lembro, sempre à procura de uma porta… Uma saída… Uma bênção. Mas o que encontro diariamente em minha jornada é a mesma paisagem. Sigo sempre em linha reta. A praia não faz contornos e não estou andando em círculos. Este local arde no fogo. Madeira já não existe, pois se transmudara em carvão e este em brasa fumegante.

Seria este o eterno castigo bíblico? A morada de Satanás? Não… Este não é o inferno e demônio algum aqui habita dado que o cristianismo não passa de uma farsa. Este lugar existe porque sinto e causa uma dor tão tremenda que apesar de tanto tempo nenhum de nós se acostumou. Muitas faces sem nenhum sorriso. Apenas feições de dor e questionamento. Interrogações e dúvidas… Ódio. Raiva. Ira completa e total sobre nosso esquecimento por Deus e o Filho. Somos nós, as silhuetas da noite umbralina, que queimamos desde sempre, para sempre.

Por: Infragalaxia