JUVENATRIX – um monstro que se alimenta de conteúdo como uma Bolha Assassina

Entrevista

Nesta entrevista “exclusiva”, mergulhamos no universo underground e do cinema, literatura de projetos na ficção científica e no horror, e dos fanzines undergrounds. Na compania do renomado historiador underground/repórter Renato Rosatti.

Nesta ele nos relata a marca histórica do fandom Juvenatriz, que ultrapassou mais de 200 edições, este que é uma das instituições da literatura marginal sobrevivente, mergulhada na ficção cientifica unindo filmes de horror e música underground; nos relata também acerca de suas outras publicações undergrounds …

Confiram.

 

E aí meu amigo Renato Rosatti, como está essa força/luta literária?! Meu amigo, logo de início queria salientar que é um imenso prazer conversar com você, eu pra mim é uma referência da cena zineira, um grande batalhador desta arte marginalizada, digo, tive a grata satisfação em ser um dos que adquiriu a edição número 100 (edição comemorativa e com capa colorida, pra época era algo complicado e caro), que na ocasião era uma homenagem ao Quorthom.

Eu que agradeço a oportunidade da entrevista para o “Lucifer Rex”, grande portal de metal extremo, e especialmente para o amigo Hioderman Zartan, que conheço já há muitos anos. A edição # 100 do fanzine “Juvenatrix” foi lançada em Março de 2006 e a capa colorida é um desenho de autoria do Eduardo Manzano, intitulado “Under the Sign of the Black Mark”, uma homenagem à lendária banda sueca de metal extremo “Bathory”, cujo terceiro álbum tem o mesmo nome, servindo também como uma homenagem ao imortal Quorthon, que faleceu em 2004.

Você tem formação acadêmica ou é autodidata? Quando começou a admiração e vontade de criar um zine/fandon e com estes desígnios voltados à cultura de filmes B/clássicos e a música extrema? 

Sou formado em Engenharia Mecânica, não tenho estudos acadêmicos em Jornalismo. Mas, desde a adolescência, quando tive contato com fanzines nos anos 80, nasceu a vontade de entrar nessa arte de editar publicações amadoras voltadas ao Horror & Ficção Científica e um pouco de metal extremo, minhas preferências. Comecei em 1988 com o “Megalon”, junto com o Marcello Simão Branco, e depois a partir do início dos anos 90 lancei o “Juvenatrix”, “Astaroth” e “Carnage”, todos espalhando o Horror e pingando sangue por onde passavam.

O nome “Juvenatrix” veio de um filme americano obscuro e bagaceiro de 1988, lançado em vídeo VHS por aqui pela “Taipan Video” como “Re-Juvenator”.

Já o “Astaroth” teve o nome inspirado num demônio do filme “Uma Filha Para o Diabo” (To the Devil a Daughter, 1976), com elenco liderado por Christopher Lee.

O Juvenatrix sempre foi um zine/fandon de Metal & Horror, você tem uma noção da periodicidade e divulgação do mesmo, e, aproveitando o ensejo, apresente a edição 01 (Janeiro/1991) e a atual, 250 (Setembro/2023), e, nos relate o que mudou (ou não) no editorial da primeira edição até os dias atuais. 

Durante os mais de 30 anos de publicação regular, a periodicidade na fase impressa foi bimestral e na fase digital os lançamentos são mensais. Na fase impressa, que durou de 1991 a 2007 (107 edições), a tiragem era pequena. Com a mudança para digital em arquivo PDF distribuído por e-mail, a partir de 2007 até hoje, a tiragem tornou-se bem maior.

O número 1 nasceu em janeiro de 1991, inicialmente com o nome “Vortex”, datilografado em papel tamanho ofício 2 (216 x 330 mm), copiado através de xerox e distribuído pelo correio. Depois o nome mudou para “Juvenatrix” a partir da edição 7 (janeiro de 1992).

A partir do número 108 (2007), o fanzine migrou para o formato digital com distribuição em arquivos PDF, mantendo-se dessa forma até os dias atuais.

Os materiais publicados são contos, artigos e resenhas de filmes e livros, histórias em quadrinhos, ilustrações, notícias e divulgação de produção alternativa, sempre dentro da temática Horror & Ficção Científica (com um pouco de Metal Extremo).

Nos últimos tempos o fanzine está mais voltado para os textos de análise crítica de filmes, especialmente os mais antigos e com produções de baixo orçamento (que são as minhas preferências pessoais).

Não o sei você, mas, eu quando editava zines, eu tinha um vício (nunca me curei, kkk) em escrever/criar as matérias do zine, sempre destrinchando algum som underground, digo, que tipo de música mais lhe agrada ouvir quando está a criar a edição do Juvenatrix. 

Lembro-me que muitos fanzineiros de antigamente ouviam músicas enquanto trabalhavam nas edições ou quando escreviam cartas na saudosa época da rede social analógica, onde os contatos eram todos realizados por correspondências postais, e as pessoas costumavam escrever nas cartas qual som estavam ouvindo naquele momento.

Às vezes eu também fazia parte desse grupo e ouvia metal extremo dos anos 80, 90 e início de 2000.

Me veio a lembrança da edição 50 (de 2001) do Juvenatrix, que me chamou a atenção por ser um zine com 200 páginas, achei isso espantoso na época. Houve outras edições especiais na mesma pegada? Como você seleciona os textos/matérias que irão sair no Juvenatrix? 

Essa super edição #50 foi lançada em abril de 2001 como comemoração de 10 anos. Teve 202 páginas tamanho A4, capa e contracapa coloridas e xerox encadernado em espiral. Com 51 colaboradores através de contos e textos sobre cinema e literatura. Pelo alto custo de produção e distribuição, teve tiragem reduzida com apenas 40 cópias assinadas. Foi um grande prejuízo financeiro na época, mas que foi compensado pela satisfação em lançar uma edição imensa que ficou registrada na história dos fanzines impressos brasileiros com a temática de Horror & FC.

Os materiais são recebidos dos colaboradores, avaliados e estando dentro da proposta do fanzine, são publicados. É um processo simples, sem censura. A ideia sempre foi apoiar e incentivar a produção de quem está interessado em escrever e procura espaço para mostrar seu trabalho.

Qual(is) aparatos ou diferenças há entre o Astaroth Zine e o Juvenatrix? Astaroth ainda está sendo editado? 

O “Astaroth” foi criado em janeiro de 1995 e teve 57 edições impressas até 2007. A partir daí migrou também para uma versão digital com arquivos em PDF, que foi até o número 63 (2008). Ficou hibernando um tempo (como um vampiro em seu túmulo escuro) e retornou em 2015, sendo publicado até o número 69 (2017). Atualmente, está novamente suspenso, repousando em sua sepultura gelada.

Ele tem características similares ao “Juvenatrix”, com um foco maior na divulgação de produções alternativas e materiais de metal extremo, com a diferença de menos páginas e tiragem bem maior. Mas, uma vez sendo uma espécie de filhote bastardo do “Juvenatrix”, a tendência foi sair de circulação, transferindo os esforços e energia para o fanzine principal.

Avaliando esta década atual, o adento zineiro está mais profissionalizado, assim digamos, a maioria dos zines atuais são feitos em gráfica, mas, você foi um dos primeiros a transgredir do formato físico para o digital na época. Como se deu essa adaptação, aliás, hoje em dia o meio mais viável da divulgação dos zines é o formato PDF, disserte um pouco acerca disso. 

Para impedir o desaparecimento do “Juvenatrix”, devido aos altos custos de produção e distribuição, ele foi obrigado a migrar para uma versão eletrônica na internet, e esse processo de mudança foi muito simples. Com um arquivo word transformado em PDF, a nova versão permite um aumento do número de páginas e informações, fotos e imagens coloridas, além de grande distribuição gratuita por e-mail, e praticamente sem custo de produção.

Ainda prefiro os fanzines impressos em papel, que são especiais e insubstituíveis, mas por questões de sobrevivência no caso do meu fanzine, a migração para meios eletrônicos foi inevitável.

O Boca do Inferno Blogger, uma grande referência na cena horror/ficção cientifica e música underground, a como está o andamento dele? 

O site “Boca do Inferno” foi criado em 2001 pelo Marcelo Milici. Em 2002 ele me convidou para participar com textos, e desde então (mais de 20 anos) estou contribuindo com quase 750 resenhas de filmes de Horror & FC.

O site é uma das grandes referências do gênero no Brasil e continua mantendo-se forte e crescendo. Eu costumo dizer que ele é um “monstro” que se alimenta de conteúdo como uma “Bolha Assassina” que vai aumentando seu tamanho com o passar do tempo, já hospedando milhares de análises críticas de filmes (principalmente), além de livros, notícias e outros assuntos, num imenso banco de dados à disposição dos apreciadores do gênero.

Como você avalia os filmes atuais, a cena Horror / Ficção cientifica? Você tem acompanhado as refilmagens/remakes lançadas neste último século? 

Eu gosto de tudo, mas minha preferência sempre foram os filmes mais antigos com efeitos práticos em vez de computação gráfica. Desde as produções com os “monstros da Universal”, os filmes bagaceiros dos anos 50 e 60 com temas, entre outros,  de “homens transformados em monstros”, “cientistas loucos”, “paranoia da guerra nuclear”, “invasão alienígena”, o ciclo de horror gótico italiano, os ingleses da “Hammer” e “Amicus”, os clássicos populares como “A Noite dos Mortos-Vivos”, “O Exorcista” e “O Massacre da Serra Elétrica”, as tranqueiras divertidas dos anos 80 como “The Evil Dead”, “Hellraiser” e uma infinidade de outros.

Vi muitos filmes mais atuais desse início de século e tento acompanhar os mais recentes, as incontáveis refilmagens e episódios de franquias, mas ainda assim muitos deles não consegui ver ainda, e sinceramente, nem estou me importando. Fico aguardando alguma oportunidade qualquer, sem pressa. Justamente porque prefiro o cinema do passado.

Desses mais novos, minha preferência tem sido o horror psicológico de filmes como “A Bruxa”, “Ao Cair da Noite” e “Hereditário”, por exemplo, os quais investem menos em sangue e mais em histórias sombrias.

Meu amigo de longas datas, creio ser tudo por hora, mas, deixo este espaço para algo mais que você tenha interesse em relatar/divulgar. Foi uma grande honra entrevistar você, um dos batalhadores da nossa cena underground e da cinematografia também. 

Conheço você desde 2005, dos tempos do fanzine “Guerreiros Zineiros” e da “Anaites ZDP”. E teve aquela entrevista em 2006 no site “Thunder God Zine”. Você sempre foi um batalhador da cena do metal extremo.

Agradeço a oportunidade dessa entrevista e também pela participação regular no site “Lucifer Rex” com textos sobre cinema de horror e ficção científica.

Para quem estiver interessado nos meus fanzines ou textos de análise crítica de filmes, seguem os contatos e endereços:

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