MERCYFUL FATE – Summer Breeze/Memorial da América Latina SP – 28/04/2024

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Há certa controvérsia em torno do festival Summer Breeze no Brasil. O festival alemão em terras tupiniquins parece pairar numa realidade à parte, por conta dos valores e padrões fora da realidade de grande parte do público. Mas o fato é que o festival chegou à sua segunda edição com grande presença de público e já foi anunciada uma terceira edição em 2025. Mas vamos deixar esse assunto de lado, pois não se trata de falar do festival, mas da banda que encerrou a edição deste ano, o Mercyful Fate, grupo que não se apresentava no país há longínquos 25 anos! A última passagem da banda por aqui foi em 1999, portanto, no século passado! De fato, a banda passou por um grande hiato desde então, tendo retornado aos palcos há apenas dois anos. King Diamond esteve por aqui em 2017 com sua banda e teria se apresentado também em 2020, não fosse a pandemia. Enquanto preparava o lançamento de um novo álbum solo, o Rei Diamante anunciou a volta do Mercyful Fate que deve lançar um próximo álbum ano que vem, o oitavo da carreira. A turnê latino-americana foi encerrada no Brasil num domingo ensolarado em São Paulo no dia 28 de abril.

Havia uma expectativa gigantesca para esse show, então quando o relógio se aproximou das oito horas da noite, a multidão que lotou o Espaço das Américas na Barra Funda em São Paulo se dirigiu em peso ao palco principal do evento (Hot Stage). Vale dizer que, diferentemente do ano passado, a banda que encerrou o festival neste ano não teve outro show simultâneo do qual disputava a atenção. Apenas o início foi simultâneo ao show do Troops of Doom, no palco menor (Waves Stage). Uma pena, pois eu mesmo não pude ver o show dessa banda que está prestes a lançar seu segundo Full-lenght. Quem deixou para aproximar-se do palco principal apenas na hora do início do show do Mercyful Fate (ou após o mesmo já ter começado) acabou ficando bem distante do palco, já que todo o público do festival se deslocou para lá.

Da formação que retornou aos palcos, houve apenas uma mudança no baixo. Saiu o experiente Joey Vera e entrou Becky Baldwin. Uma mudança que trouxe uma energia renovada para o grupo. De fato, a musicista britânica, além de ser tecnicamente impecável, tem uma presença de palco arrebatadora e é a melhor substituição possível ao saudoso Timi G. Hansen. Se estamos falando de Mercyful Fate, não poderíamos deixar de falar de Hank Shermann, fundador do grupo ao lado do Rei. Quem o viu nas apresentações da banda por aqui nos anos noventa e o viu novamente agora talvez tenha a impressão de que o guitarrista envelheceu bastante, o que aliás é bastante natural, pois estamos falando de um quarto de século de distância temporal. Contudo, apesar de sua presença indispensável, quem brilhou pra valer foi Mike Wead, cujo guitarra tive a impressão até de estar mais alta (talvez por conta de eu ter me colocado mais à esquerda do palco e sua caixa de som ter reverberado por um espaço maior da audiência). O guitarrista sueco realmente dá conta do recado, mesmo com a ingrata missão de substituir Michael Denner. Para completar, outro veterano, Bjarne T. Holm, com a banda desde o segundo álbum lançado nos anos noventa, “Into the Unknown” de 1996. O baterista cumpre seu papel com perfeição, mas é visível o desgaste físico com que chega ao final do show. Entretanto, apesar do tempo implacável, a voz de King Diamond parece ainda melhor depois de todos esses anos. Uma performance tão impressionante causa até a suspeita do uso de playback, mas definitivamente não é esse o caso. Depois de ter sobrevivido a várias intempéries, o Rei Diamante parece ter ratificado seu pacto por uma voz capaz de conjurar todos os demônios.

Via-se pelas camisetas e maquiagens que o Mercyful Fate era de fato a banda a ser vista, afinal há 25 anos muitos que estavam ali nem eram nascidos, outros não tiveram a oportunidade de ver os shows da banda nos anos noventa, enquanto aqueles mais velhos, como eu, esperavam rever uma banda que curtem há já trinta ou quarenta anos! Portanto, quando veio abaixo o pano com o logotipo da banda que cobria o palco e o som do órgão da abertura de “The Oath” começou a ser ouvido, a emoção tomou conta da multidão. O palco trazia um enorme crucifixo de cabeça para baixo acima no fundo e abaixo dele um pentagrama com um bode em seu centro. Ainda mais ao fundo a capa de “Don’t Break the Oath”, álbum que completa seu quadragésimo aniversário neste ano de 2024. O som estava perfeitamente alto e ajustado para a ocasião e a celebração do pacto se deu de forma esplendorosa!

Após o pacto, a faixa seguinte foi “A Corpse Without Soul”, do célebre EP autointitulado “Mercyful Fate” de 1982. E então para a terceira faixa da noite, King Diamond trocou sua máscara de crânio de bode pela coroa que representa uma catedral gótica medieval para introduzir a ainda inédita “The Jackal of Salzburg”, já conhecida, porém, pois vem sendo executada nesses últimos dois anos de volta aos palcos. Essa é uma faixa longa e cadenciada e durante sua execução a plateia que se aglomerava em frente ao palco principal do Festival acompanhou atenta e com devoção religiosa.

A quarta faixa executada nessa sombria noite quente de domingo foi “Curse of the Pharaos” do Melissa (1983), a qual foi seguida por “A Dangerous Meeting”, mais uma de “Don’t Break the Oath”. Na sequência veio “Doomed by the living dead”, outra do mini álbum de estreia da banda, e antes da próxima execução, King Diamond apresentou os membros da banda e sua cidade de origem, a começar por Mike Wead de Estocolmo na Suécia, a baixista Becky Baldwin, que o Rei disse não saber de qual cidade provinha, mas que sabia que ela morava em Birmighan na Inglaterra (de fato, ela é de lá). E depois de apresentar o conterrâneo de Copenhague Bjarne T. Holm, King apresentou o também proveniente da capital dinamarquesa… “The one and only Mister Hank Shermann”!, O cofundador da banda então iniciou o dedilhado de abertura de “Melissa” causando forte emoção em todos os presentes (confira parte disso no vídeo abaixo). E então seguiram-se os clássicos desse mesmo álbum “Melissa” de 1983, “Evil” e “Black Funeral”. Para surpresa daqueles que, como eu, esperavam por uma pausa antes do prosseguimento da missa negra, a banda emendou “Come to the Sabbath”, como sempre uma das mais vibrantes do Mercyful Fate ao vivo.

            The ceremony’s proceeding… it´s time to grant our wishes!

De fato, aquela que já era uma das maiores festividades satânicas ao ar livre no Brasil de que se tem notícia – não me lembro de um show ligado ao Black Metal ao ar livre e tão grandioso, já que não podemos compará-lo com a apresentação do mesmo Mercyful Fate no Pacaembu no Monsters of Rock de 1996, à luz do dia e sem um palco à altura da grandeza da banda, pois agora a apresentação ocorreu à noite, no show principal e com o palco completo. E a celebração não poderia ficar completa sem “Satans Fall” que encerrou perfeitamente um show que ficará na memória de todos que puderam presenciá-lo, inclusive do próprio King Diamond que afirmou exatamente isso ao agradecer ao público e deixar o palco – sob o som de “To one far away” – com a promessa de uma volta que, pela graça de Lúcifer, não tardará mais 25 anos!