COLD ART INDUSTRY – Profissionalismo no trabalho focado no Doom Metal.

"Muitas vezes uma banda brasileira só ganha reconhecimento quando explode lá fora."

Entrevista

O “cara” por trás dos trabalhos da Cold Art Industry, Douglas Silva, o “Barão”, desde o início sempre mostrou muito profissionalismo em um trabalho sério desenvolvido com amor naquilo que faz. Mergulhando no mundo do Funeral Death Doom, vem se consolidando como um dos selos mais éticos e profissionais no cenário da música extrema nacional e internacional… Vamos conversar com esse mestre da atmosfera melancólica.

A Cold Art Industry foi fundada em 2016, como analisa todo esses anos de trabalho?
Douglas Silva – Na verdade, a Cold Art Industry existe desde 1999, porém não como selo, mas como distribuição e venda de materiais como CD, LP, K7, Camisas e etc. Com o passar do tempo recebemos diversas propostas para lançamentos em parcerias com alguns amigos de selos que nos forneciam materiais e achamos que era a hora de virarmos um selo também. No começo participamos de muitos lançamentos em parcerias dos mais diversos gêneros dentro do metal extremo. O começo serviu como uma grande aula para nós. Quando digo nós, me refiro ao fato que a Cold Art Industry lá no começo era formada por 4 cabeças e hoje só eu estou a frente. Foram bons e péssimos momentos, mas valeu a pena.

Qual o primeiro registro lançado somente pela Cold Art Industry?
Douglas Silva – Foi o Rotting Christ – A Dead Poem. Levei muito tempo para lançar esse material, pois como se tratava de um licenciamento, tudo era muito diferente do que eu estava acostumado até então sobre lançar materiais. Muitos amigos de outros selos sempre deram sugestões para que eu pudesse ter um lançamento só meu, pois parceria é muito bom, porém fazer lançamentos sozinho é muito melhor.

Qual a maior dificuldade de um selo hoje em dia em sua opinião?
Douglas Silva – Acredito que a dificuldade fica por conta da falta de vendas para determinados materiais. O público hoje está mais seletivo, buscando mais os clássicos absolutos e bandas mais consagradas que são os medalhões do metal mundial. Note que quando um medalhão lança algo lá fora, as redes sociais aqui no brasil pipocam de notícias e imagens sobre determinado lançamento, que digamos de passagem, em poucas semanas perdem força e as pessoas voltam a falar dos antigos álbuns dos medalhões, porém quando qualquer selo apresenta um lançamento mais, digamos, underground, você não consegue ver uma gama de notícias ou compartilhamentos sobre esse determinado lançamento. “Ahhhh! Mas você não pode comparar uma banda gigante com uma banda desconhecida”. Sim eu concordo quando argumentam isso sobre a falta de apoio, porém nos tempos de ouro dos selos como Demise, Evil Horde, Lofty Storm e Sound Riot, a divulgação de qualquer lançamento era massiva! Porém são tempos diferentes, mentalidades diferentes e não há muito o que fazer para regressar esse tempo aí. O bom é que ainda temos alguns canais que apoiam com inteligência os selos que buscam fazer algo diferente. Para esses que nos apoiam de verdade eu tiro meu chapéu. Em resumo a falta de vendas e também apoio nas divulgações ainda é um grande calo nos pés dos selos que fazem algo diferente, mas vamos tocando o barco.

O que acha das parcerias para lançamentos, você acha viável ou em alguns casos seria apenas uma dor de cabeça, dê sua opinião?
Douglas Silva – Parcerias são ótimas, principalmente quando se reúnem pessoas que vão na mesma pegada, na mesma energia e com sangue nos olhos. Quando as parcerias vão na mesma direção, não tem erro!!! Hoje em dia eu sou muito seletivo com as parcerias. Meus últimos lançamentos em parcerias foram perfeitos. Tudo deu certo e me sinto honrado por ter feitos ótimos materiais ao lado de selos honestos e que valorizam demais cada detalhe do trabalho. Isso não tem preço. Eu já tive muitas dores de cabeça no passado com parcerias. E quem não teve? Mas foram dores de cabeça necessárias para o aprendizado. Não me arrependo de nenhuma parceria por conta da experiência que tive, porém aqueles que me deram dores de cabeça eu jamais voltarei a fazer algo com eles. Que sigam seus caminhos e desejo a eles muita sorte.

A Cold Art Industry já lançou alguns itens de diversos os estilos, hoje em dia está mais focado na linha Funeral Doom, foi uma escolha por gostar do estilo?
Douglas Silva – Sim, eu amo o Death Doom e o Funeral Doom. Foi algo natural. Eu sempre ouvia algo mais arrastado desde os primeiros álbuns do Anathema, Paradise Lost, October tide, Katatonia entre outros. Então essa sempre foi a minha pegada. Com o passar do tempo eu passei a conhecer outras bandas mais arrastadas e com melodias que rasgam a alma como The 3rd and the Mortal, Desire, My dying Bride, Saturnus, Morgion entre outros. E vi que é um estilo pouco explorado aqui no Brasil e decidi seguir esse caminho. Lógico que procuro mesclar com outros estilos como o Black Metal e Death Black. E como a Cold Art Industry não é o meu ganha pão principal, eu posso me dar o “Luxo” de lançar o que eu gosto sem precisar se reinventar a cada ano ou acompanhar tendências para se manter nos holofotes das redes sociais.

Como descreveria a atual cena do metal extremo no brasil com sua visão como selo?
Douglas Silva – A cena brasileira tem ótimas bandas. Tive o prazer de lançar muitas bandas brasileiras. A turma lá fora tem bons olhos para o metal que vem do Brasil. Não só para os medalhões já consagrados, mas para uma gama de bandas mais underground. A cena brasileira se renova a cada dia. A única coisa que ainda é a pedra no sapato das bandas brasileiras é a questão da falta de apoio aqui no Brasil. Muitas vezes uma banda brasileira só ganha reconhecimento quando explode lá fora. Existem dezenas de exemplos assim, mas isso é algo que todos já sabem, eu estou apenas repetindo isso aqui nesse espaço. Porém temos aquela gama de fãs que de fato apoiam o que está sendo lançado aqui e isso é algo perfeito e que não tem preço. Dá gosto você ver o fã perguntando sobre determinado lançamento nacional, compartilhando, apoiando e levando pra frente o trabalho das bandas brasucas. Alguns lançamentos que fiz me deram muito orgulho, pois fizeram barulho aqui no brasil sem precisar exportar o material. Bandas que foram lançadas pela Cold Art Industry que tive prazer em participar: Hell Light, Jupiterian, Litosth, Madrigal, Darkest Hate Warfront, Wolflust e I Gather Your Grief. Esses lançamentos tiveram um grande apoio e valeu muito apena. Eu tenho orgulho de ter lançado materiais dessas bandas brasileiras.

Qual o material você lançou que de um certo modo se arrependeu de ter lançado?
Douglas Silva – Na verdade, foram vários lançamentos que eu me arrependi em ter entrado! Mas de certa forma foram uma grande aula para mim, e se eu não tivesse passado por essas péssimas escolhas e situações eu não teria chegado onde cheguei, porém prefiro não os mencionar.

Que banda você gostaria de ter lançado pela Cold Art Industry e você sabe que será pouco provável o relançamento?
Douglas Silva – Seria uma grande honra lançar os materiais antigos do Symbolic Immortality e um único álbum do Murder Rape que é o perfil da Cold Art Industry, porém, não existem possibilidades para isso. Pois existem muitas questões que impedem que isso aconteça. Mas está tudo bem.

Você é um cara muito detalhista em seus trabalhos, deixando as versões lançadas bem melhor do que as de época, isso é um trabalho de marketing, descreva?
Douglas Silva – Eu sempre gostei de fazer algo diferente, pois quando eu comprava cds importados pela Sound Riot eu percebia que o povo lá fora tinha um capricho diferenciado! Encartes com papel e com uma gramatura diferentes e uma preocupação com o visual. Você pega os cds de bandas como Aghast, Brighter Death Now, Mortiis, Ordo Rosarius Equilibrio entre outros dessa época e você fica assustado com o nível de qualidade. Muitos são cds simples, porém tem algo ali que os diferencia dos demais. Então o que posso dizer é que a qualidade é o cartão de visita do CD. No começo eu sempre tentava puxar algo nessa linha. Seja colocando um Slipcase, um pôster, um encarte fosco ou envernizado, hotstamp dourado ou prateado e outras coisas, porém isso tem um custo, que na ocasião dava pra fazer sem onerar muito o preço final do CD, porém hoje em dia, é praticamente impossível lançar um CD tão carregado de acessórios e tentar vender pelo preço de uns anos atrás, infelizmente, hoje, não dá mais, porém ainda tento fazer algo que possa de alguma forma ser diferencial. Vamos torcer para a economia voltar para os trilhos no próximo ano, para com isso voltarmos a lutar por materiais mais encorpados. Estou na torcida para isso.

Um trabalho que você jamais lançaria pela Cold Art Industry, e por que?
Douglas Silva – Na verdade, são centenas de materiais que eu jamais lançaria, por não seguir tendências e por questão de identidade mesmo, porém eu prefiro não os mencionar.

Você é um cara que trabalha de forma muito honesta e profissional, já teve problemas com algum outro selo, justamente devido ao seu profissionalismo?

Lógico! E quem nunca teve? No passado, eu convidei alguns selos para participarem de parcerias de lançamentos! Porém, depois de tudo esquematizado, contrato assinado e tudo pronto para seguirem os lançamentos, começaram a surgir os problemas internos! Problemas do tipo: O selo convidado não tinha dinheiro para honrar a cota do lançamento. O selo estava com problemas familiares e precisava de tempo para conseguir a grana. Parente doente, briga com esposa, problemas de saúde entre outras milhares de desculpas. Até chegar ao ponto de não responder mais as mensagens que eu enviava cobrando uma posição sobre o pagamento! Alguns eu precisei devolver parte do dinheiro, pois depois de tudo pronto, o selo deu pra trás e pediu o dinheiro de volta. Outros, eu tive que tirar dinheiro do meu bolso para arcar com os custos dos licenciamentos e prensagens. Alguns me devem dinheiro até hoje, mas está tudo bem, isso eu tiro isso como uma grande lição. Alguns selos, que me sacanearam, até me procuram depois para tentar lançar algo comigo, porém só tiveram o meu silêncio. Porém, eu torço para que eles trabalhem, foquem apenas nos seus lançamentos, transformem suas redes sociais numa excelente e poderosa ferramenta para dar um melhor atendimento para os clientes e que amadureçam, cresçam e sigam em frente. E por último, parem de fuder as suas próprias vidas e a vida dos outros que trabalham de maneira correta. Tá na hora já né?

Qual sua opinião sobre alguns selos que faz acordo de lançamento e acaba deixando a banda de lado para lançar algo mais interessante do seu ponto de vista? um jogo sujo ou uma oportunidade para ser aproveitada?

Douglas Silva – Acordos devem ser honrados, como respondi anteriormente narrando a minha situação sobre parcerias que não valeram a pena. O acordo tem que ser firmado entre ambas as partes. Tanto o selo quanto a banda. Não existe só o Selo que abandona a banda. Existe também a banda que abandona o selo. Quando existe um rompimento de contrato antes de todo o processo onde ambas as partes estão de acordo, beleza! Não houve prejuízo para ninguém e cada um segue o seu caminho, porém quando ambos apertam as mãos, formam uma aliança e uma das partes sacaneia depois de tudo esquematizado, realmente é canalhice. Nesse último caso, eu não vejo como uma oportunidade a ser aproveitada, mas uma falta de moral, onde se faz descartar qualquer futura parceria e amizade. Em meus acordos eu sempre honrei meus compromissos com as bandas e selos, mesmo tomando prejuízo, porque é assim que tem que ser.

Quais os futuros planos frente a Cold Art Industry?
Douglas Silva – Bom, tenho alguns lançamentos para honrar. Uns em parceria e outros sozinho. Depois disso verei que rumo a Cold Art Industry vai seguir. Estou um pouco cansado e meu tempo está ficando curto para o selo. Não vou dizer que irei parar, mas vejo que um hiato está por vir. Será de forma natural sem levantar poeira e sem ficar chamando a atenção em redes sociais.

Deixe suas palavras finais para os admiradores dos seus trabalhos que assim como eu, além de admirar e respeitar também reconheço como um dos mais profissionais no ramo….
Douglas Silva – Eu gostaria de agradecer imensamente a você Alan Luvarth e LuciferRex por esse espaço. Agradecer também a todos amigos e amigas que sempre acompanham e apoiam o trabalho da Cold Art Industry. Juntos, somos mais fortes! Vocês é que fazem tudo valer a pena. Obrigado!!!

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