Thrash Metal parte 5

O Tanque de Guerra esmagando crânios! Um bombardeio Thrash Metal em 1985 a saga continua...

Dark Reflections

Quando eu comecei a escrever esse artigo, eu sabia que iria ter algum trabalho, principalmente se tratando de um estilo musical extremo com tantas nuances e tantas bandas que fizeram a história acontecer, e olha que ainda estou preso na segunda metade dos anos oitenta e início dos noventa, e preciso avançar de décadas (risos).

Fato é que comecei a desbravar a explosão do estilo a partir de 1985, o que ficou conhecido como segunda onda do Thrash Metal e, sem precedentes, algumas bandas ficaram de fora, já que o texto já havia alcançado um limite que eu mesmo impus, para fazer com que cada artigo fosse devidamente saboreado pelo leitor, não ficasse muito extenso, e que a fragmentação do artigo em partes fizesse sentido. Por isso continuarei a falar da segunda onda, porque ainda tem algumas bandas importantes para serem abordadas até que eu passe para a fase do Crossover, as bandas de segundo e terceiro escalão, a decadência do Thrash na década de noventa e o estilo no Brasil.

A princípio eu projetei por volta de seis partes, mas, a essa altura, já não tenho mais a mínima condição de fazer esse tipo de prospecto a respeito desta série, principalmente quando a parte 4 precisa de uma continuação na parte cinco. De fato, não tem como não falar de Overkill que foi também muito responsável pela proliferação do estilo assim como por influenciar muitas bandas na frente, ainda que a banda tenha passado por algumas fases musicais e tenha feito dos seus inúmeros álbuns, verdadeiras identidades sonoras e mesmo estéticas.

Overkill foi formado em Nova Jersey quando um D.D. Verni/Rat Skates (nomes reais: Carlo Verni e Lee Kundrat – os nomes artísticos eram homenagens às bandas punk favoritas, os Ramones com Dee Dee Ramone, e os Damned, com Rat Scabies… Bobby Blitz foi tirado de The Dead Boys’ Projeto Johnny Blitz!), banda punk chamada The Lubricunts, se separou em 1980 (há uma foto da capa da demo de Lubricunts no encarte de Wrecking Your Neck). D. D. rapidamente quis formar uma nova banda, então lançou um anúncio que foi respondido pelo guitarrista Robert “Riff Thunder” Pisarek (que inventou o nome Overkill), mas foi rapidamente substituído por Dan Spitz e Anthony Ammendola.

Os primeiros covers (especialmente aqueles feitos sob o nome Virgin Killer nos primeiros dias) eram músicas punk em sua maior parte, incluindo seleções dos Ramones e The Dead Boys. Em 1980, eles recrutaram dois guitarristas (nomes esquecidos com o tempo) e o set-list incluía músicas do Motörhead (“Overkill”, metade do álbum Ace of Spades, e outros), Judas Priest (“Tyrant” foi o mais próximo por algum tempo), e mais tarde Iron Maiden e Riot, bem como um punhado de covers de punk que foram tocados com distorção extra, intensidade e concentração em riffs.

Em 1981, os guitarristas Dan Spitz (mais tarde do Anthrax) e Anthony Ammendola deixaram a banda e Rich Conte entrou com Mike Sherry. Neste ponto, eles começaram a escrever originais, incluindo “Grave Robbers”, “Raise the Dead”, “Overkill” e “Unleash the Beast Within”. Mais originais viriam, incluindo “Rotten to the Core”. Por volta dessa época, Rich e Dan saíram e Bobby entrou com Joe, alguém nas guitarras. A banda se tornou uma referência nos clubes de Nova York e Nova Jersey por volta de 1982 e logo Bobby fez jus ao seu apelido de “Blitz”, sendo expulso da banda por alguns dias em 1983.

Nessa época, foi adotado o logotipo verde fluorescente; foi escolhido especificamente para se destacar em um pôster com muitos logotipos vermelhos de outras bandas no cartaz.

Overkill lançou seu primeiro álbum em 1985, um disco de músicas autorais, em plena ascensão do Thrash, exatamente quando a banda estava com uma formação estável e tinha acabado de lançar um EP de 12” autointitulado “Feel the Fire” 1985 (Megaforce Records) ainda não possuía claramente os traços tão evidentes do Thrash Metal, mas do speed. O speed metal desse álbum parece um tanto mais primitivo, não está próximo das etapas que o estilo já havia atingido com bandas como Agent Steel por exemplo, por sinal outra banda que também vai transitar seu estilo musical para o Thrash Metal.

Na parte dois deste artigo, eu fiz uma breve exemplificação do que seria o Speed Metal, justamente para que os leitores destes artigos tivessem bem claro como os estilos estão separados em sua origem, e, no caso do Overkill, uma banda que estava envolvida com a cena punk a ponto de seus maiores fã serem deste gênero, seus discos autorais enveredaram totalmente para a cena Metal, ainda que buscassem um pouco de velocidade em seus registros. “Taking Over” 1987 (Megaforce Records) segundo álbum da banda, ainda não era exatamente um álbum de Thrash Metal e ainda vinha com muitas características do álbum anterior, certamente o principal disco de Thrash Metal do Overkill foi o “Under the Influence” 1988 (Megaforce Records).

A sonoridade, até mesmo a forma de Blitz cantar neste álbum revelam a mudança de rumos da banda, com músicas mais furiosas e velozes, menos truncadas como demonstradas nos discos anteriores ainda marcados pelo speed Metal, neste álbum Overkill mostra outra face de suas influencias e, talvez, o sucesso que o Thrash Metal vinha fazendo na época tenha determinado essa mudança, mesmo porque a maior parte das bandas estavam fazendo aquele tipo de som, inclusive as bandas que surgiram na mesma época e já estavam anos luz na frene do Overkill. Algo marcante na gravação de “Under the Influence” é a ênfase dada ao baixo que fica muito destacado e será cada vez mais destacado dali para a frente, principalmente quando a banda adicionar o groove em suas composições, aliás poucas bandas de Thrash resistiram ao groove nos anos 90.

Overkill alcançou seu primeiro sucesso mainstream com seu segundo álbum de estúdio e estreia no Atlantic, “Taking Over”, que alcançou a posição 191 na Billboard 200 .  Os próximos cinco álbuns de estúdio da banda – “Under the Influence” 1988, “The Years of Decay” 1989, “Horrorscope” 1991 (Megaforce Records), “I Hear Black” 1993 e “WFO” 1994 (Atlantic Records) – também tiveram sucesso nas paradas da Billboard, com os dois últimos ficando entre os dez primeiros na parada Top Heatseekers . Após sua separação da Atlantic em 1995, Overkill passou por algumas mudanças de gravadora, mas continuou a desfrutar de um sucesso underground moderado, particularmente na Europa e no Japão. Assim como seguiu as tendencia da época principalmente nos álbuns “I Hear Black” e “WFO”.

Agent Steel foi formado por John Cyriis logo após sua demissão do Megadeth em 1984, já que, de acordo com Cyriis, o guitarrista e agora vocalista Dave Mustaine era contra a ideia de focar em conceito sobre “alienígenas” (pense! Risos). Deste modo ele criou a banda e passou a compor dentro deste conceito gravando uma demo em estúdio, intitulada “144,000 Gone” no verão de 1984. “144,000 Gone” foi escrita por Cyriis quando ele era guitarrista de sua banda anterior, Sceptre, uma banda de metal underground formada em Los Angeles em 1983 com Tony e Phil Sardo. Os irmãos Sardo saíram logo depois para formar a banda de thrash metal Sardo. A formação consistia então no baterista Chuck Profus, nos guitarristas Bill Simmons e Mark Marshal e no baixista George Robb. Outro membro chamado John Gott entrou, mas saiu logo depois.

A banda podia ser considerada uma banda de Speed Metal, como era comum as bandas que tocavam mais rápido naquela época, e de fato eles estavam mais para o Speed que para o Thrash, porém o Thrash metal não se resumia apenas a características musicais, ultrapassava um efeito sonoro e tinha a ver com atitude. Certamente, o primeiro álbum traz esses requisitos de atitude thrasher que o Cyriis trazia de sua experiencia com o Megadeth, suas ideias sobre Aliens e a vontade de tocar rápido está impregnada em “Skeptics Apocalypse” 1985 (Combat Records).

Skeptics é um disco direto, rápido, frenético com fortes refrões e rifes insanos, altamente surpreendente e taxar aquele álbum simplesmente de speed metal seria uma restrição ao estilo. Não que isso fosse uma referência, mas o Agent Steel era uma banda que vivia a cena thrash, inclusive fazendo turnês com bandas do gênero e sendo consumida pelo mesmo público.

Em 1986 a banda compôs seu segundo álbum e tinha tudo para lançar no mesmo ano, mas teve problemas com a capa do disco assim como começou um imbróglio com a gravadora Capitol Records, a mesma que tinha Megadeth em seu cast. A banda havia pedido um aporte maior financeiro e a gravadora pediu um tempo para resolver as questões, mas depois negou e desfez o contrato, alegando que a banda era muito instável com relação aos seus músicos, e era verdade, Agent Steel passou por muitas mudanças durante sua carreira (curta por sinal) e o álbum “Unstoppable Force” 1987 (Combat Records), eles reorganizam seus acordos com a Combat e lançam um álbum bem diferente do primeiro, principalmente quanto a sonoridade.

Algo que sempre chamou atenção na banda era a qualidade vocal de Cyriis, que era um vocalista virtuoso, com belíssimos agudos e uma percepção musical impecável, muito diferente das bandas mais comuns de Thrash e Speed da época. “Unstoppable Force” era um disco muito mais cadenciado, praticamente sem refrão e uma sonoridade que se aproximava muito do que o Queensryche e o Fates Warnning faziam naquela época. Foi o álbum que desviou muito da velocidade e dá a impressão de que a banda queria seguir um caminho mais tradicional em sua música.

Em 1987 a banda saiu em turnê para promover o álbum ao lado de Nuclear Assault, mas em 1988 a banda se desfez, pois sua gravadora, Combat Records, os suspendeu. Essa suspensão durou enquanto durou o contrato da banda com a gravadora – cerca de três anos ou mais. Em uma entrevista, Cyriis declarou sua versão do motivo pelo qual Agent Steel foi dissolvido em 1988: “…. Agent Steel foi enterrado vivo pela Combat Records, que suspendeu a banda sem motivo legítimo e justificável. Por que eles fizeram isso, permanece um mistério até hoje…”

A banda voltou a se reunir em 1988 com os guitarristas Juan Garcia e Bernie Versailles sem o consentimento de Cyriis (detentor dos direitos do nome da banda), apresentando o retorno dos membros Chuck Profus e Michael Zaputil, e o novo vocalista Bruce Hall. Zaputil deixou a banda logo depois e o novo baixista Karlos Medina o substituiria. O terceiro álbum “Omega Conspiracy” 1999 (Candlelight Records). Em 2001, a banda mudou seu nome para Order of the Illuminati devido à pressão legal de Cyriis. Profus deixou a banda em 2002 e foi substituído pelo novo baterista Rigo Amezcua. Eles retornariam ao nome Agent Steel e gravariam seu quarto álbum “Order of the Illuminati” 2003 (Scarlet Records), mesmo nome que apresentavam na época. Foi uma história de idas e vindas e que, particularmente eu acho muito desinteressante, chegaram a encerrar e voltar mais uma vez com Cyriis em 2010, ele saiu em 2011.

Artillery foi formada em junho de 1982 em Taastrup , um subúrbio de Copenhague, pelo baterista Carsten Nielsen e pelo guitarrista Jørgen Sandau. Artillery dividiu uma sala de ensaio com Mercyful Fate e Metallica por algum tempo, as bandas que também foram suas fontes de inspiração, que luxo!  Mais tarde, eles concordaram em nomear a banda Artillery retirada da faixa “Heavy Artillery” do álbum “Filth Hounds of Hades” de Tank (Banda tradicional inglesa da NWOBHM). Depois de experimentar vários músicos, a formação passou a ser os guitarristas Jørgen Sandau e Michael Stützer, o baixista Morten Stützer, o baterista Carsten Nielsen e o vocalista Carsten Lohmann. O grupo gravou as demos “We Are the Dead” (1983), “Shellshock” e “Deeds of Darkness” em 1984.

A primeira estreia comercial do Artillery ocorreu no início de 1985, com a inclusão da música “Hey Woman”, no Volume Um da série de compilações “Speed ​​Metal Hell”, lançada pela New Renaissance Records. Mais tarde naquele ano, Carsten Lohmann saiu e foi substituído por Flemming Rönsdorf, no mesmo ano, o Artillery gravou uma quarta demo, “Fear of Tomorrow”, assinou com a Neat Records, e lançou seu primeiro álbum, também intitulado “Fear of Tomorrow”. Em 1986, Carsten Nielsen foi contatado por Quorthon do Bathory perguntando se ele estava interessado em tocar bateria no Bathory. Nielsen recusou a oferta porque achava que o Artillery se tornaria uma banda muito maior do que o Bathory (perdeu a chance de estrelar – risos).

“Fear of Tomorrow” é um disco muito poderoso, principalmente por se tratar de uma banda de um país que não era tão tradicional no Metal, mesmo com o grande Mercyful Fate, ninguém nos Estados Unidos poderia esperar que uma banda de Thrash faria um disco tão bom vindo daqueles lados. As divisões, a criatividade e a voz estranha Flemming davam o molho perfeito daquele disco, fazendo com que a banda tivesse uma boa expressividade na cena. Claro que também é um álbum cheio de referências do speed metal, afinal o Thrash nasceu dessa fusão entre o speed e o hardcore, algumas bandas que tinham mais referências do metal, caso do Artillery, vai optar pelo speed ao hardcore, certamente que a convivência das bandas americanas com o gênero, principalmente as nova iorquinas e as californianas darão maior ênfase ao hardcore.

O segundo álbum, o melhor que a banda já lançou em minha opinião, “Terror Squad” 1987 (Neat Records), foi um disco que soou mais agudo, mais rápido e mais incorporado na técnica do Thrash Metal que a época já exigia, ainda existe alguns enganos sobre timbragem principalmente na voz de Flemming, mas isso fica encoberto pela criatividade que a banda sempre manteve bem evidente. Seu terceiro álbum, “By Inheritance” 1990 saiu em LP e CD, pela Roadrunner Records a essa altura, uma das gigantes gravadoras do genero. O Artillery se desfez em 1991, alguns dos membros seguiram seus próprios projetos musicais durante o resto da década de 1990.

Como aconteceu com muitas bandas que encerraram carreira ainda nos anos oitenta ou início dos noventa, Artillery se reuniu em 1998 e voltou a ativa lançando novos álbuns, aos quais tive pouco interesse em conhecer, mas cheguei a adquirir alguns que não foram tão empolgantes para mim a ponto de trazer uma lista neste artigo.

Sabbat foi uma banda inglesa de Nottingham composta por Martin Walkyier (vocal), Andy Sneap (guitarra – esse tem história), Simon Jones (guitarra), Frazer Craske (baixo) e Simon Negus (bateria). Eles são considerados um dos “Big Four” do Thrash Metal britânico junto com Onslaught, Acid Reign e Xentrix (estas duas últimas abordarei ainda nesta parte do artigo), que foram responsáveis ​​pelo desenvolvimento e popularização da cena Thrash Metal do país no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Ao longo de seus seis anos iniciais, o Sabbat lançou três álbuns de estúdio, quatro demos, dois singles divididos/álbuns de compilação, dois singles e um VHS ao vivo. Em 1988, a banda lançou seu álbum de estreia, “History of a Time to Come” (Noise Records), que lhes rendeu ainda mais reconhecimento.

“History of a Time to Come” é um disco surpreendente em que a crítica da época ficou de cabeça para baixo, pois as combinações feitas por seus integrantes era uma mistura bombástica de Thrash Metal norte-americano com alemão, dando uma forma devastadora ao seu som, além da irregularidade dos rifes e mudanças de andamento inusitadas que traduziam uma arte de ruptura, de quebra. O vocal de Martin se mostrava cheio de nuances perversas e cheio de ar sombrio, que traduzia uma letra mais fantástica, épica, um tanto diferente do que abordariam as bandas dos países mais influentes do thrash que optavam pelo satanismo ou pela política, Sabbat preferia a fantasia, assim como Agent Steel pelo tema alienígena.

É claro que Satanismo e ocultismo faziam parte das letras fantásticas do Sabbat, mas a declaração deles sobre isso era que não passava de uma teatralidade, eles eram de fato interessados em história e filosofia, colocando a religião como cenário destas suas fantasias. O segundo álbum “Dreamweaver (Reflections of Our Yesterdays)” 1989 (Noise Records), foi um álbum conceitual, baseado no livro The Way of Wyrd , de Brian Bates – The Way of Wyrd: Tales of an Anglo-Saxon Sorcerer (London: Century, 1983, ISBN 978-0-7126-0277-8) – O álbum demonstrou as crenças profundas de Walkyier no Wyrdismo, na espiritualidade anglo-saxônica, no misticismo celta e no paganismo.

Foi na turnê do segundo álbum que Sabbat resolve integrar mais um guitarrista em sua formação e dá muito certo, fazendo com que o som da banda fique cada vez mais violento.Seu terceiro álbum “Mourning Has Broken” 1991 (Noise records) vem acompanhado da decadência da banda que passou a sofrer com a má gestão financeira dela própria e da gravadora Noise. Andy chegou a declarar que recebeu conselhos de não continuarem na gravadora, mas eles viam peso no selo, já que existiam no cast nomes como Kreator, Helloween, Celtic Frost, que vinham sendo consideradas bandas muito grandes no final dos anos 1980. A gravadora simplesmente deixou Sabbat de lado, não investindo em sua carreira e desestimulando os músicos que vinham passando por sérios problemas financeiros tornando inviável a sustentação da banda.

“Mourning Has Broken”, é um capítulo esquecido na história desta clássica banda de Thrash Metal do Reino Unido. O álbum sofreu uma reformulação na formação da banda, já que o vocalista original Martin Walkyier havia saído. Seu substituto, Ritchie Desmond, dificilmente conseguia ter a mesma eficiência de Martin, seu estilo vocal meio “Dio” era bem diferente da voz venenosa de Martin. O baixista também mudou, e mais visivelmente o estilo musical passou do Thrash total para o Power Metal. Sabbat também tentou retornos informais e oficiais anos depois, mas também não vi muito êxito nestes retornos e prefiro ficar com a história inicial da mesma e seus dois primeiros e fantásticos discos.

Coroner foi fundada em Zurique na Suiça em 1983, mas sua melhor formação ficou reconhecida em 1985. Coroner foi uma banda diferente da cena Thrash metal e fazia uma mistura inusitada de estilos ainda difíceis de serem digeridos na época combinando elementos de thrash , música clássica , música de vanguarda , rock progressivo , jazz e metal industrial com vocais adequadamente rudes. Com seu estilo cada vez mais complexo de Thrash influenciado por rock progressivo, eles chegaram a ser chamados de “o Rush do Thrash Metal”, provavelmente essa complexidade sonora fez com que a banda fosse pouco conhecida fora do eixo europeu.

Coroner era mais uma banda do cast da Noise Records, gravadora alemã que ganhou fama após lançar bandas que passaram a ser grandes nomes do Thrash Metal europeu, onde a banda lançou seu primeiro disco em 1987. “R.I.P.” é um disco em que o trio, que eram roadies do Celtic Frost, executaram um álbum cheio de referências do próprio Celtic Frost, mas sua sonoridade sombria se fixou muito mais para o Thrash que para o Death Metal como o Celtic soaria. “R.I.P.” é um daqueles discos difíceis de digerir, muito requinte para a época, mas um álbum vigoroso de cheio de ideias novas, mostrando um tipo de música que o thrash não vai demorar em assimilar até o final da década de oitenta.

Coroner lançou mais quatro álbuns na próxima década: “Punishment for Decadence”1988, “No More Color” 1989, “Mental Vortex” 1991 (Noise) e “Grin” 1993 todos pela Noise Records, bem como a coletânea “Coroner” 1995, que também incluiu alguns novos e material inédito; cada lançamento foi aclamado pela crítica e pelo público. Além de ter feito turnês incansáveis ​​por mais de meia década (incluindo três vezes nos EUA). Seu último álbum de estúdio “Grin” já traz um Coroner cada vez mais distante do Thrash Metal e mais próximo do experimentalismo progressivo e do industrial que estava muito em voga na década de noventa, chega a ser um disco um pouco maçante, principalmente para quem prefere um Thrash Metal mais direto e “caceteiro” (como dizemos por aqui).

Coroner não obteve muito sucesso comercial, o que contribuiu para que a banda se desintegrasse lentamente em meados da década de 1990 e se separasse oficialmente após uma turnê de despedida resultante de seu álbum autointitulado (trata-se da coletânea citada acima) em janeiro e fevereiro de 1996.

O período que estabeleci como iniciado em 1985, que atravessa até o final da década e segue até os anos 90, são a montanha russa do estilo Thrash Metal, se por um lado 1985 até 1989 fica marcado a explosão do thrash, entre 1990 e 1996 fica expressa a decadência do estilo. O que vai marcar essa decadência será a fadiga do estilo e a saturação do mercado fonográfico que vai passar a voltar suas energias para estilos mais “modernosos” como o grunge e o industrial, o grunge vai ocupar o mainstream, com isso grandes bandas do Thrash Metal sucumbirão a determinadas tendencias, ou naufragando com Thrash ou tentando inserir novas propostas como o groove, que acabou calhando em muitas bandas e fazendo outras surgirem seguindo essa tendencia.

Já cheguei a dizer que para o Thrash Metal a década de noventa foi cruel, mas para outros gêneros de Metal, foi generosa, caso do Death Metal, Black Metal, Doom Metal e subgêneros que se ramificaram nestas três bases de subdivisão do Metal. Mas Thrash desceu ladeira abaixo. Por outro lado, algumas bandas de Black/Thrash Metal resistiram muito bem as tendencias dos anos noventa, apesar de nenhuma delas alcançar o que Metallica ou Slayer alcançaram, mas forma marcantes para a cena underground como Desaster (ALE), Nifelheim (SUE), Aura Noir (NOR), Nocturnal (ALE), Usurper (EUA), Nocturnal Breed (NOR), Absu (EUA) e outras que irei abordar em uma das partes deste artigo.

Dando seguimento a mais algumas bandas da cena Thrash a partir de 1985, temos o Xentrix (pronuncia-se Zentrix) iniciaram sua carreira como uma banda de covers com outro nome, Sweet Vengeance. Estes shows como covers eram tão intensos que chamou atenção da gravadora Roadrunner inglesa, notando o talento da banda eles assinaram contrato em 1989. O álbum de estreia da banda, “Shattered Existence”, produzido por John Cuniberti, foi lançado no final daquele ano. Xentrix trouxe no seu primeiro álbum fortes influências das bandas de Thrash da Bay Area e de Nova Iorque, doses certeiras de Metallica, por exemplo. Rifes muito bem construídos e uma execução muito interessante para suas canções fizeram da banda uma das gratas surpresas do estilo no Reino Unido, não a toa se tornaram uma das “Big Four” de lá.

Em 1990 a banda passou por problemas com a justiça por causa do uso indevido de uma imagem/símbolo do filme Ghostbusters, que foi usado como capa de um EP de mesmo nome qual só foi lançado depois com outra capa. Xentrix também foi ganhando notoriedade a partir de participações em turnês de bandas como Testament. Seu segundo álbum “For Whose Advantage?” é lançado em 1990, na mesma sequência de ascensão dela. “For Whose Advantage?” é um disco que ratifica a carreira da banda, certamente pelas características tão marcantes do Thrash Metal Bay Area e o fato de antes ter sido uma banda cover que tocava Metallica entre outras bandas norte-americanas…

Seu terceiro álbum “Kin” de 1992, já sofreu várias críticas por ter se afastado de suas ideias originais e terem investido num som mais progressivo, seria a praga da década de 90? Apesar das críticas o álbum foi muito bem promovido por turnês e videoclipe exibido na MTV que era um canal muito popular de música entre a década de noventa e de 2000. Após um hiato e substituindo Chris Astley por Simon Gordon e Andy Rudd nos vocais e guitarra respectivamente, o Xentrix ressurgiu em 1996 com seu quarto álbum “Scourge”, a banda mais uma vez tomou um rumo diferente ao adotar um som groove metal mais lento. A banda se separou logo após seu lançamento, citando o declínio da popularidade na cena metal britânica como o motivo.

Rotineiramente, como várias outras, a banda se reuniu mais duas vezes, mas confesso que minha admiração pela banda ficou no segundo álbum “For Whose Advantage?” 1990 e morreu com ele. A banda parece estar em atividade, porém não fui imparcial a ponto de procurar conhecer seus novos lançamentos tão pouco escutá-los, por isso não continuarei a falar sobre o Xentrix.

Outra banda inglesa que ganhou proporção assim como Sabbat, Onslaught e Xentrix foi a Acid Reign, apesar dela não se encaixar propriamente nesta parte do artigo, por se tratar de uma banda mais Crossover (que terá um capítulo específico), levarei como algo a ser citado, já que a banda foi considerada uma das “Big Four” britânica e não poderia deixar para depois. Sua principal atuação no cenário britânico ocorreu entre 1985 e 1991, onde lançaram dois belos álbuns: “The Fear” 1989, “Obnoxious” 1990 (Under One Flag).

“The Fear” certamente é seu álbum mais expressivo, é um disco furioso, porém pouco conhecido e festejado fora do eixo europeu. Muito se falava que Acid Reign seria a resposta britânica para o Anthrax, visto a atmosfera furiosa e ao mesmo tempo divertida que a banda demonstrava em seus shows e fica marcado neste primeiro álbum. Outro quesito muito importante é a influência marcante do movimento punk/hardcore britânico que faz a banda soar muito mais crossover que simplesmente uma banda de Metal.

Acid Reign teve uma curta carreira e encerrou suas atividades em 1991 após lançar seu segundo álbum, que não teve a mesma repercussão que o primeiro nem tão pouca alcançou o estrelato de um “History of a Time to Come” do Sabbat. Bom, isso, definitivamente, não foi determinante para que o Acid Reign fosse considerado uma banda competente e estimada pela cena Thrash. Tres dos integrantes do Acid Reign, mais tarde, se juntaram ao Cathedral e a banda acabou quando encerrou o contrato com a Music For Nation, retornando a cena em 2015 e lançando mais um álbum em 2019 “The Age of Entitlement” (Dissonance Productions).

Ainda existem outros tópicos sobre o Thrash que eu quero mencionar e ficarão para as próximas partes do artigo, estas já mencionei outras vezes e, aos poucos, vou chegando lá. Falar sobre o Thrash é como assistir a um filme dos Gremlins, a cada momento nasce uma ideia nova, uma banda nova que você ainda não falou e que merece ser citada, enfim, é o tipo de assunto que tem muito o que ser dito. Mantendo o hábito, vamos a nossa lista de indicações para essa parte, claro que se trata dos melhores álbuns, em minha opinião, sobre as bandas abordadas nesta parte e afins.

Lista de indicações da semana, bom cumprir o dever de casa hein?

Overkill – “Feel the Fire” 1985 (Megaforce Records);

Overkill – “Under the Influence” 1988 (Megaforce Records) recomendo este por considerá-lo o primeiro grande álbum de Thrash Metal do Overkill;

Agent Steel – “Skeptics Apocalypse” 1985 (Combat Records);

Artillery – “Fear of Tomorrow” 1985 (Neat Records);

Artillery – “Terror Squad” 1987 (Neat Records);

Artillery – “By Inheritance” 1990 (Roadrunner Records);

Sabbat (UK) – “History of a Time to Come” 1988 (Noise Records);

Sabbat (UK) – “Dreamweaver (Reflections of Our Yesterdays)” 1989 (Noise Records);

Coroner – “R.I.P.” 1987 (Noise Records);

Coroner – “Punishment for Decadence”1988 (Noise Records)

Coroner – “No More Color” 1989 (Noise Records);

Coroner – “Mental Vortex” 1991 (Noise Records);

Xentrix – “Shattered Existence” 1989 (Roadracer Records – divisão da Roadrunner Rec.)

Xentrix – “For Whose Advantage?” 1990 (Roadracer Records – divisão da Roadrunner Rec.) melhor álbum da banda.

Acid Reign – “The Fear” 1989 (Under One Flag);

Acid Reign – “Obnoxious” 1990 (Under One Flag).

 

Referencias:

Kerrang!, No 140, 4 March 1987

Metal Forces, No 25, August 15, 1987

www.metal-archives.com

Former Sabbat Members Martin Walkyier and Andy Sneap Have A Very Public Row. Metaltalk.net. 26 March 2013. Consultado em 08/02/2024

Headbangers Ball- The Unofficial Tribute Site – Episode Database”. headbangersballunofficialtributesite.com. Consultado em 08/02/2024

Wiederhorn, Jon. Barulho infernal: a história definitiva do heavy metal/ Jon Winderhorn & Katherine Turman; [tradução: Denise Chinem]. São Paulo Conrad Editora do Brasi, 2015

April 2010, Jon Wiederhorn 13. «Clash of the Titans Tour: Iron Giants». guitarworld (em inglês). Consultado em 29 de janeiro de 2024

Gilmore, Mikal; Gilmore, Mikal (11 de julho de 1991). «Heavy Metal Thunder: Slayer, Megadeth and Anthrax». Rolling Stone (em inglês). Consultado em 29 de janeiro de 2024

 Gilmore, Mikal (28 de junho de 2012). Night Beat: A Shadow History of Rock & Roll (em inglês). [S.l.]: Pan Macmillan

www.metal-archives.com consultado em 29 de janeiro de 2024

Get Thrashed: a história do thrash metal (documentário) disponível em https://www.youtube.com/watch?v=JepHTgRiV7E consultado em 27 de janeiro de 2024